terça-feira, 12 de março de 2013

O ser humano e suas profundezas – Nelson Rodrigues – Obra aplicada

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida.

Expectativas a respeito do ser humano

"É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez." (Nelson Rodrigues, no site nelsonrodrigues.com.br)

Nelson Rodrigues no fragmento de texto acima exprime, de forma sucinta, um aspecto interessante do ser humano. Se tomarmos aquele fragmento de texto como base – assim funcionam as ciências com seus pressupostos que lhes dão base -, é possível ter esperança no desenvolvimento positivo dos valores humanos e consequentemente na humanidade. Assim eu penso e sinto, ou seja, assim eu percebo e desta forma eu vivo.

Há quem julgue pela obra de Nelson Rodrigues que ele tinha uma visão pessimista a respeito do ser humano. Eu discordo que ele não tivesse esperança no ser humano. Entendo que se ele não tivesse tal esperança, ele não teria realizado a sua obra que tanto indica as nossas mazelas. Ele não as revelaria em vão. No meu entendimento ele, através de sua obra, expressava também tal esperança. Seria ilógico esse "berro" dele se o objetivo fosse apenas o de agredir a humanidade através da exposição das mazelas dela. Ninguém com inteligência suficiente para conhecer tão bem o ser humano, como é o caso dele, seria capaz de tamanha pequenez.

O pensamento a seguir mostra que ele tinha esperança no ser humano, haja vista que ele considerava a possibilidade do sujeito se angustiar e, assim, promover as ações necessárias às mudanças.

"A nossa opção, repito, é entre a angústia e a gangrena. Ou o sujeito se angustia ou apodrece." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 69)

Ele, o Rodrigues, assinalou a necessidade de autoconhecimento

Ele era ao mesmo tempo crítico e autocrítico. Revelava comportamentos alheios e dele próprio. O ser humano que não reconhece as próprias mazelas não pode livrar-se delas.

"As senhoras me diziam: 'Eu queria que seus personagens fossem como todo mundo'. E não ocorria a ninguém que justamente, meus personagens são 'como todo mundo': - e daí a repulsa que provocavam. 'Todo mundo' não gosta de ver no palco suas íntimas chagas, suas inconfessas abjeções." (Nelson Rodrigues, no texto Os que propõem um banho de sangue; O Reacionário)

"O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: 'Senhoras e senhores, eu sou um canalha'." (Nelson Rodrigues, no livro Flor de Obsessão)

Viver de aparências.

Quem vive de aparências é o mesmo que viver interpretando um personagem. Logo, quem assim procede deixa de viver a própria vida. Afinal, não é mais honesto consertar o que é preciso consertar do que maquiar a imperfeição?

"Acabava de conversar com uma grã-fina, justamente a que lera as orelhas de Marcuse [...] A leitora de orelhas... (Nelson Rodrigues, no texto Uma bica entupida há mil anos; O Reacionário)

"Na vida, usamos máscaras sucessivas e contraditórias." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 261)

"E, assim, falsários da vida, dos valores da vida, vamos fazendo as nossas poses políticas, ideológicas, literárias, religiosas etc. etc." (Nelson Rodrigues, na crônica A vítima obrigatória, O Óbvio Ululante)

"O ser humano é o único que se falsifica. Um tigre há de ser tigre eternamente. Um leão há de preservar, até morrer, o seu nobilíssimo rugido. E assim o sapo nasce sapo e como tal envelhece e fenece. Nunca vi um marreco que virasse outra coisa. Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se. Ele se falsifica e, ao mesmo tempo, falsifica o mundo." (Nelson Rodrigues, no texto A vítima obrigatória, O Óbvio Ululante)

"Temos uma bondade frívola, distraída, relapsa. Fazendo as contas, somos bons, por dia, de quinze a vinte minutos." (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 84)

"O sujeito, para viver, ou sobreviver, enterra o próprio espírito, como as jóias de Raskolnikov. E, se for preciso, ele finge debilidade mental e põe-se a babar na gravata, copiosamente." (Nelson Rodrigues, no texto Os falsos cretinos; O Óbvio e Ululante)

Somos nós que demandamos.

Algo só existe se houver demanda, ou seja, se o ser humano entender que é necessário a ele, que é agradável a ele e assim, ele desejar este algo. As demandas podem ser naturais ou induzidas.

"Se não existisse no homem o lado podre, se não existisse no fundo de cada qual a lama inconfessa e encantada, também não existiria a indústria cinematográfica." (Nelson Rodrigues, no texto Contra a violência; A Cabra Vadia)

"Napoleão, o Grande, só foi possível porque a Europa estava saturada de pequeninos napoleões." (Nelson Rodrigues, no texto O Brasil Nazi-Stalinista; A Cabra Vadia)

Agir no limite.

É possível conhecer mais a respeito de uma pessoa quando a vemos agir no limite. É neste estado que somos mais autênticos. À medida que o indivíduo se prepara para viver de forma humana, ele tem menos do que se envergonhar de suas atitudes.

"A fome não tem limites. As pessoas fazem aquilo que jamais pensaram que fossem capazes de fazer, quando passam fome." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 45)

"No risco, as pessoas fazem as mais aviltantes acrobacias ideológicas." (Nelson Rodrigues, no texto Sua vida foi um momento da consciência brasileira; O Reacionário)

Sem medo de ser feliz.

No fundo é mais agradável "viver vivo" do que "viver morto". Portanto, nada melhor do que ser autentico, do que correr os riscos e passar pelas dores de se dignificar como um ser humano. Não ser nada, não ser ninguém, não ser você mesmo dói muito.

"O indivíduo que esboçar um esgar de inteligência há de ser, sempre, um solitário e um escorraçado. Um idiota está sempre acompanhado de outros idiotas. Mas nenhum ser é menos associativo do que o inteligente." (Nelson Rodrigues, no livro Inteligência com dor, 2009, pág. 5)

"Hoje é muito difícil não ser canalha. [...] Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo." (Nelson Rodrigues, no texto O ex-covarde; A Cabra Vadia)

A obra de Nelson Rodrigues tem muito mais a nos mostrar sobre as profundezas do ser humano. Para compreender tais profundezas, basta arregaçar as mangas e conhecer o legado que o Nelson, o Rodrigues nos deixou.


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