domingo, 10 de março de 2013

A triste e vergonhosa automação – Nelson Rodrigues – Obra aplicada

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida.

Nós não somos máquinas. Máquinas não pensam, não têm sentimentos, não têm intuição e não têm inspiração. Máquina é máquina e ser humano é ser humano. Ao menos deveria ser assim.

"Sem alma, não se chupa um Chicabon, não se cobra nem um arremesso lateral." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 254)

É possível observar um estado avançado de automação humana em nossa sociedade. Pessoas parecem máquinas, estão insensíveis aos outros e às belezas da vida. A objetividade exacerbada mecaniza o ser humano e este não consegue perceber o que há de belo ao seu redor e encontra-se cada vez mais incapaz de agir de forma poética. No meio educacional os procedimentos estão, cada vez mais, sendo automatizados. O futebol perdeu o élan de beleza e ganhou um mecanismo maquinal. Os filmes ficaram tolos em sentimentos e artificiais no conteúdo. Falta humanidade, falta a característica que nos torna humanos, que nos torna diferentes das máquinas.

"O ser humano é o único que se falsifica. Um tigre há de ser tigre eternamente. Um leão há de preservar, até morrer, o seu nobilíssimo rugido. E assim o sapo nasce sapo e como tal envelhece e fenece. Nunca vi um marreco que virasse outra coisa. Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se. Ele se falsifica e, ao mesmo tempo, falsifica o mundo." (Nelson Rodrigues, na crônica A vítima obrigatória, O Óbvio Ululante)

Por falar em máquinas, vale lembrar o filme "O homem bicentenário" no qual um robô queria, do fundo do seu "coração mecânico", se transformar em ser humano. É triste ver o contrário disto, é triste ver pessoas se parecendo cada vez mais com máquinas.

"...o desenvolvimento humaniza a máquina e maquiniza o homem. O escritor patrício (Otto Lara Resende) teve vontade de conversar com as máquinas e de lubrificar as pessoas. (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 31)

Nelson Rodrigues percebeu que o ser humano caminhava para essa vergonhosa automação humana e denunciou isso em sua obra.

"As pessoas não pensam mais porque não têm absolutamente mais tempo para isso." (Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 30)

"Temos uma bondade frívola, distraída, relapsa. Fazendo as contas, somos bons, por dia, de quinze a vinte minutos." (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 84)

"Rapidamente, os nossos jornais foram atacados de uma doença grave: - a objetividade. Daí para o idiota da objetividade seria um passo." (Nelson Rodrigues, em O Reacionário, 2008, pág. 95)

"Sempre digo que a multidão é inumana porque não tem cara." (Nelson Rodrigues, no texto O Leque foi um momento, O Óbvio Ululante)

Pense nisso e avante à automação. Ops! Quero dizer: avante à autonomia. Afinal somos seres humanos e não máquinas.


Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Nelson Rodrigues

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida

Sobre minhas discordâncias e concordâncias com o pensamento de Nelson Rodrigues

Educação

Seja o primeiro a comentar

ESCREVA-NOS UMA MENSAGEM POR E-MAIL !
Mensagem para Blog Info

  ©Template Blogger Elegance by Dicas Blogger.

TOPO