domingo, 10 de março de 2013

Nelson Rodrigues – Textos para "bater-papo"

Há quem não queira "papo", mas Nelson Rodrigues gostava de "papo".

"Ele (Nelson Rodrigues) era tão coeso na sua maneira de ver o mundo, tão coerente na sua lucidez, que falava como escrevia." (Sonia Rodrigues, filha de Nelson Rodrigues, no livro Nelson Rodrigues por ele mesmo, 2012, pág. 7)

"A apresentação que o Aníbal (Damasceno Ferreira) do Nelson (Rodrigues) para mim começou como uma isca, não sei se proposital. Disse ele que nas Confissões língua portuguesa havia finalmente aprendido a falar brasileiro, isto é, que o texto do Nelson é que havia realizado o ideal modernista de, nas palavras do Aníbal, 'escrever papeando', fazer literatura com a matéria-prima da informalidade oral da língua." (Luís Augusto Fisher, no livro Inteligência com dor, 2009, pág. 14)

A linguagem dele é simples e parece que ele conversa com o leitor. É verdadeiramente uma conversa informal. Ler Nelson Rodrigues é o mesmo que "bater um papo" com ele.

"Onde é que eu estava? Agora me lembro. Depois da estreia de Vestido de Noiva, fui comer bife no restaurante Nevada, ao lado de O Globo. Depois tomei um ônibus etc. etc. Ah, passei essa noite em claro..." (Nelson Rodrigues, no texto Nascera para ser um pobre-diabo; O Reacionário)

"E lá estava anunciado o filme da semana: De amor também se morre. Os artistas eram Charles Boyer, com trinta anos menos, e Olivia de Havilland. (Ou por outra: — não era Olivia de Havilland, mas a irmã de Olivia, cujo nome não me ocorre.) [...] (Agora me lembro: — a irmã de Olivia de Havilland chamava-se Joan Fontaine.) E as pessoas que passavam na calçada..." (Nelson Rodrigues, no texto Amor para além da vida e da morte; A Cabra Vadia)

"Não sei se me entendem. Se estou sendo obscuro, paciência. Mas, como ia dizendo: — desdobro aqui a minha meditação de ontem..." (Nelson Rodrigues, no texto A feia nudez; A Cabra Vadia)

"Quando Eisenhower nos visitou, um diplomata dormiu em pleno discurso do grande homem. Dormiu e, o que é pior, babando na gravata. Nem pense que eu esteja fazendo qualquer restrição. Quando me contaram, eu sofri uma dessas crises violentas de inveja e frustração." (Nelson Rodrigues, no texto As insônias exemplares; O Reacionário)

É este "papo" informal e de fluxo fácil que faz com que os textos de Nelson Rodrigues sejam agradáveis. Ah! A generalização que fiz sobre serem agradáveis os textos de Nelson Rodrigues foi um erro imperdoável, pois só é agradável para aqueles que reconhecem em si as suas mazelas e se dispõem a agir diante disto. Para os que não têm tal disposição, imagino que os textos dele sejam altamente desagradáveis. Aliás, por que ele e seus textos foram, e são até hoje, atacados? Não é difícil de saber a resposta, ela é óbvia e ululante, como diria o escritor.

"As senhoras me diziam: 'Eu queria que seus personagens fossem como todo mundo'. E não ocorria a ninguém que justamente, meus personagens são 'como todo mundo': - e daí a repulsa que provocavam. 'Todo mundo' não gosta de ver no palco suas íntimas chagas, suas inconfessas abjeções." (Nelson Rodrigues, no texto Os que propõem um banho de sangue; O Reacionário)

"É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez." (Nelson Rodrigues, no site Nelson Rodrigues por ele mesmo)

Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Nelson Rodrigues

A obra de Nelson Rodrigues aplicada às questões da vida

Sobre minhas discordâncias e concordâncias com o pensamento de Nelson Rodrigues

Educação

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