sábado, 27 de novembro de 2010

Eu sou Árvore - Razão, sentimentos e versos

O poema Eu sou Árvore, do poeta Romildes de Meirelles, nos faz viajar, deliciosamente, embalados pela essência afetuosa dos seus versos. E se fizermos uso da razão, encontraremos, nesse poema, uma brilhante aula sobre os benefícios da relação do ser humano com os seres do reino vegetal . E se unirmos razão e sentimentos, sabe-se lá aonde esses versos irão nos levar.

Esse poema tem tradução, para o francês, realizada por Eunice Khoury.


Eu sou Árvore

Romildes de Meirelles

I

Para um pouco caminheiro
senta-te à sombra e descansa!
A brisa aqui é tão mansa,
na estrada o sol é um braseiro...
Toma um fruto meu e come,
junto a mim terás sustento,
desejo ser sua amiga,
a minha copa de abriga,
te protege contra o vento,
meu fruto mata a tua fome.


II

Vou contar-te a minha vida
enquanto gozas da sombra
neste chão macio, de alfombra,
da mata toda florida!
Eu nasci em outra era,
tão longe que já esqueci!
O mês eu nem mais me lembro,
se foi outubro... ou setembro,
mas, no mês em que nasci
era plena Primavera.


III

Olha meu porte, que nobre!...
Que altura descomunal!...
Dou sombra a qualquer mortal,
seja rico ou seja pobre;
aos lares levo o calor,
pra protegê-los do frio;
dou abrigo ao forasteiro,
ao cansado caminheiro,
seus pesares alívio
dando-lhe fruto e frescor.


IV

Quando nasces, sou teu berço,
De tua casa sou a porta,
Sou quem o teto suporta
e o meu uso é bem diverso:
sou a tábua de tua mesa,
sou a cama onde descansas,
sou cabo de ferramenta,
sou o fruto que alimenta,
sou brinquedos de crianças,
sou portão de fortalezas!...


V

Sou eu quem controla o clima
sou quem evita a erosão,
sou quem fornece o carvão,
sou quem dá matéria-prima
para papel e explosivo,
para tecido e verniz;
inda tenho um uso incrível,
dou álcool p´ra combustível
sou útil até a raiz,
só preciso de cultivo.


VI

A fauna eu também protejo,
abrigo em meus galhos, ninhos
donde saem passarinhos
que alegram o sertanejo;
em meu fruto os animais
encontram farto alimento;
protejo lagos e rios,
eu faço os bosques sombrios,
controlo a força do vento
sem que me canse jamais...


VII

Desde o berço ao ataúde
ter-me-ás sempre contigo!
Serei sempre teu abrigo,
desde a infância à juventude,
da velhice até a morte,
seja na paz ou na guerra!
E, para finalizar,
quando tua vida acabar
descerei contigo à terra,
sempre ligada a tua sorte!


VIII

Ouve, pois, oh caminheiro!
Que jamais teu braço armado
de fogo, serra ou machado,
venha ferir meu madeiro!
Cuida de mim com carinho,
dando-me um pouco de amor;
se tu fores meu amigo,
tu sempre terás abrigo,
com fruto, amparo, frescor
e descanso em teu caminho.


Romildes de Meirelles é poeta, membro e co-fundador da Casa dos Poetas do Rio de Janeiro. Participa das atividades do Espaço Cultural Profª Dyla Sylvia de Sá. É morador da Baixada de Jacarepaguá, no bairro da Praça Seca, e é gente que faz a cultura acontecer.


Veja o que foi publicado em Fatos e Ângulos sobre:

Baixada de Jacarepaguá - Gente que faz acontecer

Jacarepaguá - Baixada de Jacarepaguá

Versos

1 Comentário:

Carmen Regina Dias disse...

Sua sensibilidade me toca de um jeito... me co move, me faz chorar.

Ouve, pois, oh caminheiro!
Que jamais teu braço armado
de fogo, serra ou machado,
venha ferir meu madeiro!
Cuida de mim com carinho,


(náo me deixe morrer,
sou a tua salvaçao)

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