quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A velha contrabandista, a do Stanislaw, e os olhos de ver

Existem atividades que facilitam "enxergar" o que muitos olham, mas nem todos "enxergam". Uma delas é a leitura de textos como este de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto).

"Todos comem e bebem; porém, saber distinguir os sabores é essencial." (adapt. de uma frase atrib. a Confúcio)



A Velha Contrabandista
(Stanislaw Ponte Preta)

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:

- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?

A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:

- É areia!

Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.

Mas o fiscal desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.

Diz que foi aí que o fiscal se chateou:

- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.

- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:

- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?

- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.

- Juro - respondeu o fiscal.

- É lambreta.

Neste texto, a atitude da velhinha mostra um típico mecanismo de tirar o foco, propositalmente, do que realmente interessa para que este possa passar sem ser percebido e, assim, esta manobra ter êxito.

Infelizmente este mecanismo é utilizado com frequência na sociedade humana – e não é de hoje - com o objetivo de enganar (ludibriar). É a situação do "parece, mas não é". Um emprego disto é o fornecimento de informações que se não forem analisadas com o devido "olhar", o leitor corre o risco de aceitar "gato por lebre".

É só observar com "olhos de ver", que não será difícil identificar este mecanismo em diversas ações em nossa sociedade.

"Pergunte sempre a cada ideia: a quem serves?" (atrib. a Bertolt Brecht)

Pense nisso!


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Olhos de Ver

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3 Comentários:

luyan disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
luyan disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
luyan disse...

qual o ponto de vista da narrativa?E como ficaria o 2° parágrafo com o ponto de vista mudado?http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20130417131954AAdaXLx

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