Vem sentar-te comigo, Lídia - Ricardo Reis
Versos Recitados
Neste poema, Ricardo Reis - um dos heterônimos de Fernando Pessoa - nos permite sentir e refletir sobre detalhes da vida: prazeres, interações, etc.
O poema é recitado pelo inesquecível Paulo Autran.
Vem sentar-te comigo, Lídia
Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Clique aqui e conheça os posts de Versos Recitados !
Poema apresentado, a mim, pela caríssima e querida Carmen Regina Dias: @carmenrdias (Twitter) e Divan (Blog)
Veja o que já foi publicado em Fatos e Ângulos - Blog Info sobre :
Versos Recitados
Versos Cantados
Sala de Leitura
Fragmentos Literários
Veja mais informações em :
Ricardo Reis (Wikipédia)
Vem sentar-te comigo, Lídia - Ricardo Reis (LiThis)
Neste poema, Ricardo Reis - um dos heterônimos de Fernando Pessoa - nos permite sentir e refletir sobre detalhes da vida: prazeres, interações, etc.
O poema é recitado pelo inesquecível Paulo Autran.
Vem sentar-te comigo, Lídia
Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Poema apresentado, a mim, pela caríssima e querida Carmen Regina Dias: @carmenrdias (Twitter) e Divan (Blog)
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3 Comentários:
Esse poema nos traz muita serenidade, reflete uma tranquilidade de vida... Pensarei mais nisso, que não há necessidade de nadar dando enormes braçadas porque a vida sempre toma o seu curso normal. É melhor ter paz e guardar o silêncio...
Grande abraço, Nelson!
@soniasalim
Olá Nelson! Esse foi um dos primeiros poemas que me apaixonei quando comecei a estudar Fernando Pessoa - Ricardo Reis. Parabéns! Adorei seu blog!
Profº Nelson, que maravilha deparar-me com isto em tua página! Simplesmente Ricardo Reis. Um heterônimo fantástico de Fernando Pessoa, talvez o maior de nossa língua mãe!
Lembrei-me das aulas de Literatura Portuguesa II, em que deleitava-me de seus textos e inspirações...
Saudades das nossas conversas, viu?
Grande abraço!
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